Pular para o conteúdo

Os 49% que não votaram em Lula podem fazer muito

Não há outra forma de definir o resultado da eleição presidencial: a vitória do ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva envergonha o Brasil.

É difícil compreender que o partido responsável pelo maior esquema de corrupção da história do país volte ao poder apenas seis anos depois de ter sido removido do Palácio do Planalto.

Em uma democracia, tampouco é normal que, das nove eleições presidenciais desde 1989, o Partido dos Trabalhadores tenha lançado Lula como candidato em sete (só não o fez em 2010, quando ele não podia disputar um terceiro mandato consecutivo, e em 2014, quando Dilma Rousseff buscou a reeleição).

Mas também é preciso lembrar que, do outro lado, estão 49% dos eleitores. E é possível fazer muito com 49%. Minorias muito mais frágeis foram capazes de feitos surpreendentes ao longo da história.

O escritor e ativista inglês Douglas Hyde foi um membro do Partido Comunista de seu país por 20 anos até que se converteu ao Catolicismo em 1948. De imediato, ele se espantou com a falta de ânimo de seus irmãos de fé. Os 5 milhões de católicos da Grã-Bretanha pareciam ser menos efetivos do que os 15 mil comunistas do país. A diferença era a dedicação dos comunistas à sua causa e sua capacidade de pensar de forma estratégica. No livro “Dedicação e Liderança”, lançado em 1956, Hyde faz esta observação sobre seus tempos de comunista:

“Nós éramos eficazes, e sabíamos que éramos eficazes, na divulgação de nossas ideias. Supondo que tivéssemos muito mais líderes cristãos do que temos, imagine o impacto que poderíamos causar.”

É possível fazer muito com uma minoria.

Um exemplo mais próximo da história brasileira é a Reconquista Ibérica. No ano de 722, quando os mouros e árabes havia conquistado praticamente todo o território da Espanha (e do que viria a ser Portugal), restava nas mãos dos cristãos apenas uma estreita faixa de terra nas montanhas das Astúrias. Pois foi de lá que Pelágio das Astúrias e um pequeno grupo de guerreiros se encastelaram e conseguiram repelir os ataques dos invasores. A chama da retomada se espalhou pelas décadas e séculos seguintes, até que finalmente os invasores fossem expulsos por completo.

Diz a história que um bispo já cooptado pelos muçulmanos tentou convencer Pelágio, cercado, de que seria inútil resistir. O líder dos rebeldes cristãos respondeu citando as Escrituras.

“Você não leu nas Sagradas Escrituras que a Igreja do Senhor se tornará como o grão de mostarda e de novo crescerá pela misericórdia de Deus? Cristo é nossa esperança; que por este pequeno monte que você vê a Espanha salva e o exército dos godos reparado.”

A vitória que nasceu nas montanhas das Astúrias foi movida pela dedicação e esperança de homens comuns.

O conteúdo importa tanto quanto a mensagem

A vitória de Dilma Rousseff em 2014, em uma eleição na qual o PT usou métodos condenáveis, acendeu a chama da indignação popular que desembocaria, apenas um ano depois, em protestos gigantescos contra o governo petista e, no ano seguinte, no impeachment da então presidente. Na noite deste domingo, enquanto o noticiário anunciava a volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, é possível que uma reação semelhante à de 2014 tenha começado a ganhar corpo.

É inevitável que algumas derrotas venham pelo caminho. Mas elas precisam servir para reforçar a disposição em lutar. Nas palavras de Morton Blackwell, um dos mais experientes estrategistas do Partido Republicano, não se deve confiar completamente em alguém até que ele insista em uma boa causa que ele sabia estar perdendo. É preciso persistência. Mesmo em batalhas aparentemente perdidas. Enquanto o homem caminhar sobre a terra, todas as derrotas e todas as vitórias são temporárias.

Em muitos aspectos, embora tenha hoje uma coalizão mais ampla, o Lula de 2022 tem pautas mais radicais do que em 2002. Basta ver a plataforma do PT em temas como o aborto, a imposição da agenda LGBT e a libertação de presos. E o novo presidente pode ter um aliado importante em algumas dessas causas: o Judiciário. Por isso, o Congresso e os governadores terão uma função importante na defesa da Constituição durante os próximos quatro anos.

Na fiscalização dos representantes eleitos, tenhamos rigor total. Qualquer medida que fira a liberdade em nome da “inclusão social” ou “diversidade” deve ser denunciada pelo que é: uma tentativa de remover o poder da população para concentrá-lo nas mãos do Estado.

Outra parte importante da resposta à eleição de Lula se dará fora da Praça dos Três Poderes. É preciso conversar com os jovens, os sem religião, os que preferiram Lula por causa do assistencialismo petista, e demonstrar a eles como as ideias derivadas do socialismo fracassaram ao longo da história. A forma importa tanto quanto o conteúdo. Nossos irmãos brasileiros devem ser tratados com respeito, com interesse genuíno pelo bem comum. Não existe jeito certo de fazer algo errado, mas talvez exista o jeito errado de fazer algo certo.

Como aconselhou o imperador romano Marco Aurélio em suas Meditações: fuja daquilo que o obrigue a quebrar sua palavra, a perder o respeito próprio, a odiar alguém ou a agir como um hipócrita. Não deixe de fazer o bem, mesmo àqueles que não acreditam que o bem existe. Assim venceremos.

Da nossa parte, o compromisso do Instituto Monte Castelo segue o mesmo: fazer todo o possível, com a máxima dedicação, para proteger a vida, defender a liberdade e promover a responsabilidade. Dia após dia.