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Edmund Burke e o Conservadorismo Político

Nos últimos anos, o termo conservadorismo político está, cada vez mais, adentrando o vocabulário político do brasileiro. Entretanto, em muitos espaços, este conceito é apresentado de forma deturpada, de modo a ser representado como um mero apego estático ao passado, uma expressão do reacionarismo. A fim de se evitar esses equívocos, mostra-se necessário compreender este termo em suas origens, apresentando mesmo que parcialmente o pensamento do autor considerado como o pai do movimento que veio a ser conhecido como conservadorismo, Edmund Burke.

Burke nasceu em Dublin, Irlanda em 1729, e atuou como filósofo, teórico político e parlamentar. Seus escritos abarcavam temas desde estética, política até economia. Para ele, a sociedade precisa reconhecer o valor do conhecimento acumulado ao longo da história pela humanidade e, concomitantemente, analisar com desconfiança projetos políticos que busquem soluções gerais e imediatas para os mais diversos tipos de problemas. Ao contrário do que alguns podem equivocadamente interpretar, a perspectiva de Burke não defende uma sociedade estática, presa ao passado, mas na verdade uma valorização dos costumes elaborados através do tempo, do hábito, mantidos pela virtude da consistência. O que se busca, na visão dele, é uma análise prudente e cautelosa de todas as ações para que seja evitado desencadeamento de uma desordem social.

A obra de Burke que obteve maior destaque foi Reflexões Sobre a Revolução em França. Nesta publicação, ele demonstra como o movimento revolucionário, naquela circunstância, desencadeou um verdadeiro desarranjo institucional, gerando consequências nefastas para todos os setores daquela comunidade. O título que foi publicado em 1790 conseguiu prever a instabilidade política e o derramamento de sangue dos anos subsequentes daquela revolução, onde diversas pessoas passaram a ser condenadas à guilhotina de modo arbitrário, inclusive lideranças do próprio movimento, como Robespierre.

Com isso, o leitor pode se questionar se o autor irlandês seria contrário a qualquer tipo de revolução. Aí está o grande ponto da questão: o filósofo de Dublin advoga que a prudência política se manifesta em não haver uma tomada de decisão sem conhecer as especificidades de cada circunstância. A título de exemplo, Burke se posicionou favoravelmente à Revolução Americana, porque, para ele, a manifestação de insatisfação por parte dos membros das Treze Colônias se mostrava totalmente legítima, pois o aumento de tributos, por parte de Jorge III, seria algo abusivo e contrário ao que Burke entendia como tradição inglesa. Essa tomada de posição representa um ótimo exemplo de que o pensamento conservador não engessado e que, em circunstâncias específicas, atuações veementes podem ser necessárias.

No contexto filosófico Grã-Bretanha no século XVIII, as correntes do empirismo e do ceticismo filosófico eram amplamente difundidas e em grande medida influenciaram o autor de Dublin que recusava princípios gerais abstratos para a tomada de decisões. Ao contrário da perspectiva do iluminismo francês, fortemente orientada pelo mito do “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau, a posição de Burke era a de que os homens são fortemente influenciados por suas paixões e, consequentemente, a interpretação das relações políticas precisa ser encarada com realismo e desconfiança.

Edmund Burke deixou um grande legado tanto para conservadores, quanto para liberais, sendo amplamente reconhecido com o fundador do conservadorismo moderno. Sua perspectiva baseada na prudência mostrou que do mesmo modo em que há o legítimo direito a lutar contra o despotismo, deve-se haver sempre a cautela para não adentrar em circunstâncias que possam ser ainda mais prejudiciais.