Tradução: Glayciene Almeida
PONTOS-CHAVE DESTE ARTIGO
- Israel, Índia e Reino Unido adotaram o socialismo como modelo econômico após a Segunda Guerra Mundial.
- O erro fatal do socialismo é acreditar que seu sistema pode tomar melhores decisões para as pessoas do que elas próprias.
- O socialismo falhou em todos os países que o puseram em prática.
Os socialistas gostam de dizer que o socialismo nunca falhou porque nunca foi implementado. Mas, na verdade, o socialismo falhou em todos os países em que foi instaurado, a começar pela fundação da União Soviética há um século e passando por outros países como Israel, Índia e Reino Unido, que tentaram mas acabaram rejeitando o socialismo.
Embora houvesse grandes diferenças políticas entre o regime totalitário dos soviéticos e a política democrática de Israel, Índia e Reino Unido, todos os três últimos países aderiram aos princípios socialistas, nacionalizando suas principais indústrias e colocando a tomada de decisões econômicas nas mãos do Estado.
O fracasso soviético foi bem documentado por historiadores. Em 1985, o secretário-geral Mikhail Gorbachev assumiu o comando de um império falido em desintegração. Após 70 anos de marxismo, as fazendas soviéticas não conseguiam alimentar o povo, as fábricas não cumpriam as suas cotas, as pessoas faziam fila em blocos em Moscou e outras cidades para comprar pão e outros produtos essenciais, e uma guerra sem fim se arrastava no Afeganistão, trazendo grande custo militar para a URSS.
As economias das nações comunistas por trás da Cortina de Ferro estavam igualmente enfraquecidas, porque funcionavam, em grande parte, como colônias da União Soviética. Sem incentivos para competir ou modernizar, o setor industrial da Europa Oriental e Central tornou-se um monumento à ineficiência burocrática e ao desperdício, um “museu do início da era industrial”. Como o The New York Times apontou na época, Singapura, uma cidade-estado asiática com apenas 2 milhões de habitantes, exportou 20% mais maquinário para o Ocidente em 1987 do que toda a Europa Oriental.
E, no entanto, o socialismo ainda conseguiu enganar os principais intelectuais e políticos do Ocidente. Eles não puderam resistir ao canto de sereia, de um mundo sem contendas porque era um mundo sem propriedade privada. Estavam convencidos de que uma burocracia poderia tomar decisões mais conscientes sobre o bem-estar de um povo do que o próprio povo. Assim como John Maynard Keynes, acreditavam que “o estado é sábio e o mercado é estúpido”.
Israel, Índia e Reino Unido adotaram o socialismo como modelo econômico após a Segunda Guerra Mundial. O preâmbulo da constituição da Índia, por exemplo, começa: “Nós, o Povo da Índia, resolvemos solenemente constituir a Índia em uma Soberana República Socialista Secular Democrática.” Os colonos originais de Israel eram judeus de esquerda do Leste Europeu que buscaram e construíram uma sociedade socialista. Assim que as armas da Segunda Guerra Mundial silenciaram, o Partido Trabalhista da Grã-Bretanha nacionalizou todas as indústrias principais e atendeu a todas as demandas socialistas dos sindicatos.
No início, o socialismo parecia funcionar nesses países completamente distintos. Durante as primeiras duas décadas de sua existência, a economia de Israel cresceu a uma taxa anual de mais de 10%, levando muitos a considerarem Israel um “milagre econômico”. A taxa média de crescimento do PIB da Índia desde sua fundação em 1947 até a década de 1970 foi de 3,5%, colocando a Índia entre as nações em desenvolvimento mais prósperas. O crescimento do PIB na Grã-Bretanha foi em média de 3% entre 1950 e 1965, junto com um aumento de 40% nos salários médios reais, permitindo que a Grã-Bretanha se tornasse um dos países mais ricos do mundo.
Mas os planejadores do governo não conseguiram acompanhar o ritmo do aumento da população e da competição internacional. Após décadas de crescimento econômico cada vez menor e desemprego crescente, todos os três países abandonaram o socialismo e voltaram para o capitalismo e o mercado livre. A prosperidade resultante em Israel, Índia e Reino Unido justificou os defensores do livre mercado que previam que o socialismo certamente falharia em entregar bens de consumo. Como observou a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, “o problema com o socialismo é que você acaba ficando sem o dinheiro de outras pessoas”.
Israel
Israel é a única nação onde o socialismo teve sucesso – por um tempo. Os colonos originais, de acordo com o professor israelense Avi Kay, “procuraram criar uma economia na qual as forças de mercado fossem controladas para o benefício de toda a sociedade”. Movidos pelo desejo de deixar para trás sua história como vítimas da penúria e do preconceito, eles buscaram uma sociedade socialista igualitária e voltada para o trabalho. A população inicial homogênea de menos de 1 milhão traçou planos centralizados para converter o deserto em pastagens verdes e construir empresas estatais eficientes.
O estudioso Joseph Light, do American Enterprise Institute, apontou que a maioria dos colonos trabalhavam em fazendas coletivas chamadas Kibutzim ou tinham empregos garantidos pelo Estado. Os kibutzim eram pequenas comunidades agrícolas nas quais as pessoas faziam tarefas em troca de comida e dinheiro para viver e pagar suas contas. Não existia propriedade privada, as pessoas comiam com a comunidade e as crianças menores de 18 anos viviam juntas e não com os pais. Todo dinheiro ganho externamente era doado ao kibbutz.
Uma peça chave na socialização de Israel foi o Histadrut, o Diretor Geral da Federação do Trabalho, que subscreveu o dogma socialista de que o capital explora o trabalho e que a única forma de prevenir tal “roubo” é conceder o controle dos meios de produção ao estado. À medida que começou a sindicalizar quase todos os trabalhadores, o Histadrut ganhou o controle de quase todos os setores econômicos e sociais, incluindo os kibutzim, habitação, transporte, bancos, assistência social, saúde e educação. O instrumento político da federação foi o Partido Trabalhista, que efetivamente governou Israel desde a fundação do país em 1948 até 1973 e a Guerra do Yom Kippur. Nos primeiros anos, poucos questionavam se o poder do governo deveria ser limitado.
O desempenho econômico de Israel parecia confirmar o julgamento de Keynes. O aumento real do PIB de 1955 a 1975 foi de espantosos 12,6%, colocando Israel entre as economias de crescimento mais rápido do mundo, com um dos menores diferenciais de renda. No entanto, esse rápido crescimento foi acompanhado por níveis altos de consumo privado e, com o tempo, má distribuição de renda. Havia uma grande demanda por reformas econômicas para que o governo deixasse de tomar decisões relacionadas à economia. Em 1961, apoiadores da liberalização econômica formaram o Partido Liberal – o primeiro movimento político comprometido com uma economia de mercado.
O “milagre econômico” israelense acabou em 1965, quando o país sofreu sua primeira grande recessão. O crescimento econômico parou e o desemprego triplicou de 1965 a 1967. Logo , a Guerra dos Seis Dias estourou, alterando o mapa político e econômico de Israel. Paradoxalmente, a guerra trouxe prosperidade de curta duração a Israel, devido ao aumento dos gastos militares e um grande influxo de trabalhadores de outros territórios. Mas o crescimento econômico liderado pelo governo foi acompanhado por uma inflação acelerada, atingindo uma taxa anual de 17% de 1971 a 1973.
Pela primeira vez, houve um debate público entre os defensores da economia de livre iniciativa e os defensores dos arranjos socialistas tradicionais. O futuro ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman exortou os legisladores israelenses e liderou o caminho para o mercado livre. A guerra de 1973 e seus impactos econômicos reforçaram os sentimentos de muitos israelenses de que o modelo socialista do Partido Trabalhista não seria capaz de lidar com os crescentes desafios econômicos do país. As eleições de 1977 resultaram na vitória do partido Likud, com sua filosofia pró-livre mercado. O Likud teve como um de seus parceiros de coalizão o Partido Liberal.
As raízes do socialismo eram tão profundas em Israel que as reformas aconteceram lentamente. Friedman foi convidado a elaborar um programa que movesse Israel em direção a uma economia de livre mercado. Suas principais reformas incluíram a diminuição de programas governamentais e redução dos gastos do governo; menos intervenção do governo nas políticas fiscais, comerciais e trabalhistas; cortes no imposto de renda; e privatizações. Logo, surgiu um grande debate entre funcionários do governo que buscavam reformas e interesses pessoais que manteriam o status quo.
Em contrapartida, o governo continuou contraindo empréstimos, gastando e aumentando a inflação, que em média era de 77% entre 1978-79 e atingiu um pico de 450% em 1984-85. A participação do governo na economia cresceu em 76%, e por isso os déficits fiscais e a dívida nacional dispararam. O governo imprimiu dinheiro por meio de empréstimos do Banco de Israel, que também contribuíram para a inflação.
Finalmente, em janeiro de 1983, a bolha estourou e milhares de cidadãos e empresas privadas, bem como empresas administradas pelo governo, enfrentaram a falência. Israel estava perto do colapso. Nesse momento crítico, o presidente dos EUA, Ronald Reagan, e seu secretário de Estado, George Shultz, vieram em seu socorro. Eles ofereceram uma doação de US $1,5 bilhão se o governo israelense concordasse em abandonar as políticas socialistas e adotar alguma forma de capitalismo ao estilo dos EUA, usando profissionais treinados nos Estados Unidos.
O Histadrut resistiu fortemente em abandonar o poder e admitir que o socialismo era responsável pelos problemas econômicos de Israel. No entanto, o povo se cansou da inflação crescente e da falta de crescimento econômico, e, tendo isto em vista, rejeitou a política de resistência do Histadrut. Ainda assim, o governo israelense hesitou em gastar capital político em reformas econômicas. Logo, o secretário Schulz informou a Israel que se não começasse a liberar a economia, os EUA congelariam “todas as transferências monetárias” para o país. A ameaça funcionou. O governo israelense adotou oficialmente a maioria das “recomendações” de livre mercado.
O impacto de uma mudança básica na política econômica israelense foi imediato e abrangente. Em um ano, a inflação caiu de 450% para apenas 20%, um déficit orçamentário de 15% do PIB diminuiu para zero, o império econômico e comercial do Histadrut desapareceu junto com seu domínio político e a economia israelense foi aberta às importações. A revolução israelense de alta tecnologia foi de grande relevância, e levou a um aumento de 600% no investimento em Israel, transformando o país num importante ator no mundo da alta tecnologia.
Houve efeitos colaterais problemáticos, como brechas sociais, pobreza e preocupações com a justiça social, mas a retórica e ideologia socialista, de acordo com Glenn Frankel, correspondente do Washington Post em Israel, “foram definitivamente aposentadas”. O Partido Trabalhista, socialista, endossou a privatização e o desinvestimento de muitas empresas de capital aberto que haviam se corrompido por meio de protecionismo dos sindicatos, regras rígidas de trabalho, contabilidade falsa, favoritismo e gestores incompetentes.
Após uma expansão modesta na década de 1990, o crescimento econômico de Israel liderou os rankings do mundo em desenvolvimento na década de 2000, impulsionado pela baixa inflação e redução no tamanho do governo. O desemprego ainda era alto e os impostos atingiam 40% do PIB, muito pela necessidade de um grande exército. No entanto, os partidos políticos concordam que não há como voltar às políticas econômicas dos primeiros anos – o debate é sobre o ritmo de novas reformas de mercado. Light apontou que “o experimento de socialismo de maior sucesso do mundo parece ter abraçado resolutamente o capitalismo”.
Índia
A aceitação do socialismo era forte na Índia muito antes da independência, estimulada pelo ressentimento generalizado contra o colonialismo britânico, a classe principesca proprietária de terras (os zamindars) e pelos esforços do Partido Comunista da Índia, que foi estabelecido em 1921. Jawaharlal Nehru adotou o socialismo como ideologia dominante quando ele se tornou primeiro-ministro da Índia após a independência, em 1947.
Por quase 30 anos, o governo indiano aderiu a uma linha socialista, restringindo as importações, proibindo o investimento estrangeiro direto, protegendo as pequenas empresas da concorrência de grandes corporações e mantendo controles de preços em uma ampla variedade de indústrias, incluindo aço, cimento, fertilizantes, petróleo, e produtos farmacêuticos. Qualquer produtor que excedesse sua capacidade licenciada poderia enfrentar o encarceramento.
Como escreveu o economista indiano Swaminathan S. Anklesaria Aiyar: “A Índia era talvez o único país do mundo onde melhorar a produtividade era um crime. ” Foi uma aplicação estrita do princípio socialista de que não se pode confiar no mercado para produzir bons resultados econômicos ou sociais. A desigualdade econômica foi regulamentada por meio de impostos – a maior taxa de imposto de renda pessoal atingiu sufocantes 97,75%.
Cerca de 14 bancos públicos foram nacionalizados em 1969; outros seis bancos foram assumidos pelo governo em 1980. Impulsionados pelo princípio de “autossuficiência”, quase tudo que pudesse ser produzido internamente não poderia ser importado, independentemente do custo. Foi o “apogeu” do socialismo indiano, que ainda falhou em satisfazer as necessidades básicas de uma população em constante expansão. Em 1977-78, mais da metade da Índia vivia abaixo da linha da pobreza.
Ao mesmo tempo, observa o economista indo-americano Arvind Panagariya, uma série de choques externos abalou o país, incluindo uma guerra com o Paquistão em 1965, que veio na esteira de uma guerra com a China em 1962; outra guerra com o Paquistão em 1971; secas consecutivas em 1971-1972 e 1972-1973 e a crise do petróleo de 1973, que contribuíram para uma deterioração de 40% no comércio exterior da Índia.
O desempenho econômico de 1965 a 1981 foi pior do que em qualquer outra época do período pós-independência. Como em Israel, a reforma econômica tornou-se um imperativo. A primeira-ministra Indira Gandhi empurrou sua agenda política o mais para a esquerda possível. Em 1980, o Partido do Congresso conquistou uma maioria de dois terços no Parlamento, e Gandhi adotou, finalmente, um curso mais pragmático e não ideológico. Mas, como tudo mais na Índia, a reforma econômica avançou lentamente.
Uma declaração de política industrial deu continuidade ao recuo gradativo do socialismo que havia começado em 1975, permitindo que as empresas expandissem sua capacidade, incentivando o investimento em uma ampla variedade de indústrias e introduzindo a participação do setor privado nas telecomunicações. A liberalização posterior recebeu um grande impulso com Rajiv Gandhi, que sucedeu sua mãe em 1984, após o assassinato dela. Como resultado, o crescimento do PIB atingiu encorajadores 5,5%.
A economia continuou a superar a ideologia sob o comando de Rajiv Gandhi, que estava livre da bagagem socialista carregada por uma geração anterior. Seu sucessor, P. V. Narasimha Rao, pôs fim ao licenciamento, exceto em setores selecionados, e abriu a porta para um investimento estrangeiro muito mais amplo. O ministro das Finanças, Manmohan Singh, cortou as taxas tarifárias de exorbitantes 355% para 65%. De acordo com Arvind Panagariya, “o governo introduziu medidas de liberalização suficientes para colocar a economia no caminho de sustentar um crescimento de aproximadamente 6% no longo prazo”. Na verdade, o crescimento do PIB da Índia atingiu um pico de mais de 9% entre 2005 e 2008, seguido por uma queda para pouco menos de 7% em 2017–18.
Um grande desenvolvimento das reformas econômicas foi a notável expansão da classe média da Índia. A The Economist estima que haja 78 milhões de indianos nas categorias de classe média e média alta. Ao incluir a classe média baixa, os economistas indianos Krishnan e Hatekar calculam que a nova classe média da Índia cresceu de 304,2 milhões em 2004–5 para incríveis 606,3 milhões em 2011–12, quase metade de toda a população indiana. A renda diária das três classes médias é de US$ 2– US$ 4 para a classe média baixa; US$ 4 – US$ 6 para a média; e US$ 6 – US$ 10 para média alta.
Apesar de isto ser extremamente baixo para os padrões dos EUA, um dólar vale muito na Índia, onde a renda per capita anual é de aproximadamente US$ 6.500. Se apenas metade da classe média baixa fizesse a transição para a classe média-alta ou renda média, isso significaria uma classe média indiana de cerca de 350 milhões de indianos – um ponto médio entre as estimativas da The Economist e de Krishnan e Hatekar. Essa enorme classe média confirma o julgamento da Heritage Foundation, em seu Índice de Liberdade Econômica, de que a Índia está se transformando em uma “economia de mercado aberto”.
Em 2017, a Índia ultrapassou a Alemanha para se tornar o quarto maior mercado automotivo do mundo. Nesse mesmo ano, a Índia ultrapassou os EUA em vendas de smartphones para se tornar o segundo maior mercado de smartphones do mundo. Geralmente a Índia é descrita como um país agrícola – atualmente, ela está 31% urbanizada. A Índia tem o PIB anual de US$8,7 trilhões, ocupando, assim, o quinto lugar no mundo, atrás dos Estados Unidos, China, Japão e Grã-Bretanha. Nunca antes na história registrada, observou o economista indiano Gurcharan Das, tantas pessoas progrediram tão rapidamente.
Tudo isso foi conquistado porque os líderes políticos da Índia buscaram e adotaram um sistema econômico melhor – a livre iniciativa – após cerca de quatro décadas de progresso intermitente e prosperidade desigual sob o socialismo.
Reino Unido
Frequentemente descrito como “o homem doente da Europa” após três décadas de socialismo, o Reino Unido passou por uma revolução econômica nas décadas de 1970 e 1980 por causa de uma pessoa notável – a primeira-ministra Margaret Thatcher. Alguns céticos duvidavam de que ela conseguisse – o Reino Unido tinha então uma mera sombra de seu outrora próspero mercado livre.
O governo possuía as maiores empresas manufatureiras em setores como automóveis e aço. As maiores alíquotas de imposto individual eram de 83% sobre a “renda auferida” e esmagadores 98% sobre a renda do capital. Muitos imóveis pertenciam ao governo. Durante décadas, o Reino Unido cresceu mais lentamente do que as outras economias do continente. A Grã-Bretanha não era mais “grande” e parecia destinada ao fracasso.
O principal obstáculo à reforma econômica eram os poderosos sindicatos, que desde 1913 tinham permissão para gastar os fundos sindicais em objetivos políticos, como o controle do Partido Trabalhista. Os sindicatos inibiram a produtividade e desencorajaram o investimento. De 1950 a 1975, o nível de investimento e produtividade do Reino Unido foi o pior de qualquer grande país industrializado. As demandas sindicais aumentaram o tamanho do setor público e os gastos públicos para 59% do PIB. As demandas de salários e benefícios pelos sindicatos levaram a constantes greves que paralisaram o transporte e a produção.
Em 1978, o primeiro-ministro trabalhista James Callaghan decidiu que, em vez de convocar uma eleição, “seguiria firme” na primavera seguinte. Foi um erro fatal. Seu governo enfrentou o lendário “inverno do descontentamento” nos primeiros meses de 1979. Os trabalhadores do setor público entraram em greve por semanas. Por conta disso, muito lixo se acumulou na cidade por não ser coletado, ratos infestaram as ruas, e corpos não foram sepultados.
A privatização foi uma reforma fundamental de Thatcher. Não apenas fundamental para a melhoria da economia, mas também “um dos meios centrais de reverter os efeitos corrosivos e corruptores do socialismo”, como escreveu ela em suas memórias. A privatização traz consigo mais direito de propriedade para indivíduos do público; “o poder do estado é reduzido e o poder do povo aumentado.” A privatização “está no centro de qualquer programa de recuperação de território para a liberdade”. Thatcher cumpriu sua palavra, vendendo companhias aéreas, aeroportos, serviços públicos e empresas de telefonia, aço e petróleo de propriedade do governo.
Na década de 1980, a economia da Grã-Bretanha cresceu mais rápido do que a de qualquer outra economia europeia, exceto a Espanha. O investimento empresarial no Reino Unido cresceu mais rapidamente do que em qualquer outro país, exceto o Japão. A produtividade cresceu mais rápido do que em qualquer outra economia industrial. Cerca de 3,3 milhões de empregos foram criados entre março de 1983 e março de 1990. A inflação caiu de 27% em 1975 para 2,5% em 1986. De 1981 a 1989, sob um governo conservador, o crescimento real do PIB foi de 3,2% por ano, em média.
Na época em que Thatcher deixou o governo, o setor estatal da indústria havia sido reduzido em cerca de 60%. Como ela relatou em suas memórias, cerca de um em cada quatro britânicos possuía ações no mercado. Mais de 600.000 empregos passaram do setor público para o privado. O Reino Unido “estabeleceu uma tendência mundial de privatização em países tão diferentes como a Tchecoslováquia e a Nova Zelândia”. Após afastar-se completamente da administração keynesiana, o antes “doente da Europa” agora florescia com uma saúde econômica robusta. Nenhum governo britânico posterior, trabalhista ou conservador, tentou “renacionalizar” o que Margaret Thatcher havia desnacionalizado.
China
Como, então, explicar o impressionante sucesso econômico de uma grande economia, a China, com crescimento anual do PIB de 8% a 10% desde a década de 1980 quase até o presente? De 1949 a 1976, sob o comando de Mao Tsé-Tung, a China foi um caso perdido para a economia, devido à má gestão de Mao na economia. A sua ávida busca pelo socialismo de estilo soviético resultou na morte de pelo menos 30 milhões e talvez até 50 milhões de chineses de 1958 a 1960, e na Revolução Cultural de 1966-1976, em que um adicional de 3 milhões a 5 milhões morreram. Mao deixou a China atrasada e profundamente dividida
O sucessor de Mao, Deng Xiaoping, levou a China a uma direção diferente, buscando criar uma economia mista na qual o capitalismo e o socialismo coexistissem com a vigilância do Partido Comunista e o ajuste constante da mistura adequada. Nas últimas quatro décadas, a China tem sido a maravilha econômica do mundo pelas seguintes razões:
- Ela começou sua ascensão econômica quase do zero por causa da teimosia ideológica de Mao. Envolveu-se com o roubo calculado de propriedade intelectual, especialmente dos EUA, por décadas. Ela tirou proveito do globalismo e de sua filiação à Organização Mundial do Comércio, ao mesmo tempo em que ignorou as regras prescritas contra práticas como o roubo de propriedade intelectual. Usou tarifas e outras medidas protecionistas para obter vantagens comerciais com os EUA e outros concorrentes.
- Ela criou uma classe média de cerca de 300 milhões de pessoas, que desfrutam de uma vida decente e, ao mesmo tempo, constituem um considerável mercado interno de bens e serviços. E continua usando o trabalho forçado dos laogai para deixar os bens de consumo baratos que são vendidos no Walmart e em outras lojas ocidentais. Também permite a existência de um enorme mercado negro porque os membros do Partido lucram com suas vendas.
- Ela Permite que investidores estrangeiros comprem empresas chinesas, mas o governo – ou seja, o Partido Comunista – sempre mantém uma participação majoritária. Ela opera cerca de 150.000 empresas estatais que garantem empregos para dezenas de milhões de chineses. Depende da energia e da experiência das pessoas mais empreendedoras do mundo, atrás apenas dos americanos.
Em suma, a República Popular da China foi um fracasso econômico nas três primeiras décadas de Mao e do socialismo soviético. Começou sua escalada para se tornar a segunda maior economia do mundo quando abandonou o socialismo no final dos anos 1970 e iniciou sua experiência, que até agora tem sido bem-sucedida, no capitalismo com características chinesas.
Há sinais claros de que esse sucesso não é mais automático. A China vive uma desaceleração em sua economia, é governada por um Partido Comunista ditatorial – mas dividido – que se apega ao poder, enfrenta demandas públicas generalizadas pela garantia dos direitos humanos fundamentais e sofre com um meio ambiente seriamente degradado. A história sugere que esses problemas podem ser mais bem resolvidos por um governo democrático governado pelo povo, não por um Estado autoritário de partido único que recorre à violência quando está em crise, como Pequim fez na Praça Tiananmen e está fazendo em Hong Kong.
Conclusão
Como vimos em nossa análise de Israel, Índia e Reino Unido, o sistema econômico que melhor funciona não é o socialismo com seus controles centrais, promessas utópicas e DOP (dinheiro de outras pessoas), mas um sistema de liberdade de mercado com ênfase na competição e no empreendedorismo. Todos os três países tentaram o socialismo por décadas e os três finalmente o rejeitaram pela mais simples das razões – ele não funciona.
O socialismo é culpado de um conceito fatal: ele acredita que seu sistema pode tomar melhores decisões para as pessoas do que elas próprias. É o produto final de um profeta do século 19 cujas profecias (como o desaparecimento inevitável da classe média) foram por vezes comprovadas erradas.
De acordo com o Banco Mundial, mais de um bilhão de pessoas saíram da pobreza nos últimos 25 anos, “uma das maiores conquistas humanas de nosso tempo”. Desses bilhões, aproximadamente 731 milhões são chineses e 168 milhões indianos. O principal motor dessa elevação da pobreza foi a globalização do sistema de comércio internacional. A China deve a maior parte de seu sucesso à liberdade comercial oferecida pelos EUA e pelo resto do mundo. A última edição do Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation confirma a tendência global em direção à liberdade econômica: as economias classificadas como “livres” ou “majoritariamente livres” desfrutam de rendas que são mais de cinco vezes maiores do que as rendas de “economias reprimidas”, como aquelas da Coreia do Norte, Venezuela e Cuba.
O milagre socialista de Israel acabou sendo uma miragem, a Índia descartou a ideologia socialista e escolheu um caminho mais orientado para o mercado, e o Reino Unido deu o exemplo para o resto do mundo com sua ênfase na privatização e desregulamentação. Independentemente se estamos falando sobre as ações de um país agrícola de 1,3 bilhão de habitantes, ou a nação que deflagrou a revolução industrial, ou um pequeno país do Oriente Médio habitado por algumas das pessoas mais inteligentes do mundo: o capitalismo sempre supera o socialismo.
* Original publicado pela Heritage Foundation.