por Ryan T. Anderson*
Tradução: Glayciene Almeida
A maior base de dados do mundo sobre pacientes que passaram por procedimentos de redesignação de sexo revela que esses procedimentos não trazem benefícios para a saúde mental. Porém, não foi isso que os autores alegaram ou o que a mídia divulgou inicialmente.
Em outubro de 2019, o American Journal of Psychiatry publicou um artigo intitulado “Reduction in Mental Health Treatment Utilization Among Transgender Individuals After Gender-Affirming Surgeries: A Total Population Study.” (“Redução na Utilização de Tratamento de Saúde Mental entre Indivíduos Transgênero após Cirurgias de Mudança de Gênero: um Estudo Populacional Total”). Como o título sugere, o artigo afirmava que, após fazer cirurgias de redesignação sexual, o paciente tinha menos probabilidade de precisar de tratamento de saúde mental.
Bem, posteriormente, os editores da revista e os autores do jornal fizeram uma correção. Nas palavras dos autores, “os resultados não demonstraram vantagem da cirurgia em relação ao tratamento médico subsequente com respeito aos transtornos de humor ou ansiedade”.
Mas na verdade é pior do que isso. Os resultados originais já não demonstraram benefícios para a transição hormonal. Essa parte não precisava de correção.
Portanto, o resultado final: o maior base de dados sobre procedimentos de redesignação de sexo – tanto hormonais quanto cirúrgicos – revela que tais procedimentos não trazem os benefícios prometidos para a saúde mental.
Com efeito, na correção ao estudo original, os autores apontam que com respeito o tratamento para transtornos de ansiedade, os pacientes que passaram por cirurgias de redesignação de sexo tiveram pior desempenho do que aqueles que não fizeram:
“Os indivíduos diagnosticados com incongruência de gênero e que fizeram a cirurgia de mudança de sexo tem maior probabilidade de precisarem de tratamento para transtorno de ansiedade em comparação com os indivíduos com diagnóstico de incongruência de gênero que não fizeram a mesma cirurgia.”
Seria de esperar que pacientes que sofrem de disforia de gênero iriam querer saber desses fatos.
O que levou à correção? Uma enxurrada de críticas e cartas ao editor.
Um dos primeiros estudiosos a levantar dúvidas sobre o estudo original foi Mark Regnerus, professor de sociologia da Universidade do Texas em Austin.
Quando Regnerus escreveu para a publicação Public Discourse, ele elogiou o estudo por ter uma base de dados robusta. Mas apontou estranhezas na forma como os autores apresentaram os resultados ao público, e quais resultados foram divulgados pela mídia.
A título de exemplo, Regnerus destacou que “o estudo não encontrou benefícios para a saúde mental por intervenções hormonais para esse grupo.”
Ele também apontou que, as conclusões da análise original que os autores apresentaram dependeram dos resultados de apenas três pessoas, apesar da base de dados ser de 9,7 milhões de pessoas.
A alardeada conclusão do estudo pode depender de tão pouco quanto três pessoas em um esforço de coleta de dados alcançando 9,7 milhões, dos quais 2.679 foram diagnosticados com incongruência de gênero e pouco mais de 1.000 destes fizeram a cirurgia de mudança de sexo.
Além disso, Regnerus observou o quão pequeno era o impacto de qualquer cirurgia, que uma clínica precisaria realizar 49 cirurgias para que um paciente se beneficiasse – daqui vem o plural no título do artigo original: cirurgias.
Como Regnerus colocou, “o efeito benéfico da cirurgia é tão pequeno que uma clínica pode ter que realizar 49 cirurgias de mudança de sexos para esperar conseguir prevenir que uma pessoa subsequentemente busque assistência de saúde mental”.
Considerando todos esses fatores, por que o estudo foi celebrado pela mídia? Por que um “consenso” entre a elite médica de que a mudança beneficia os pacientes? Por que alegam que é o único tratamento aceitável?
Por que as crianças estão sendo levadas a fazer essa transição? E por que dizem aos pais que as únicas maneira de tratar seus filhos são as drogas para bloquear a puberdade, terapia hormonal para transgênero e cirurgias?
Como indicado no livro “When Harry Became Sally: Responding to the Transgender Moment” (“Quando Harry se tornou Sally: Respondendo ao Momento Transgênero”), as melhores terapias se enfocam em ajudar as pessoas a aceitar e abraçar seus corpos. Ao invés de tentar fazer o impossível – “redesignando” corpos para se alinharem com pensamentos e sentimentos equivocados – devemos ao menos tentar fazer o que é possível: ajudar as pessoas a alinhar seus pensamentos e sentimentos com a realidade, incluindo a realidade do corpo.
Não deveria nos surpreender que os resultados deste estudo – e sua correção – mostrem que os procedimentos de transição hormonal e cirúrgica não trazem os benefícios prometidos. Até mesmo o governo Obama admitiu que as melhores pesquisas não relatam melhora após a cirurgia de redesignação de sexo.
Em agosto de 2016, os centros do Medicare e do Medicaid escreveram que “os quatro estudos mais bem desenhados e conduzidos que avaliaram a qualidade de vida antes e após a cirurgia não demonstraram alterações clinicamente significativas ou tiveram alguma diferença no resultado do teste psicométrico após a cirurgia de redesignação de gênero.”
O que isso significa? Os pacientes estão sofrendo tanto que eles se submeteriam a amputações e outras cirurgias radicais. A melhor pesquisa que o governo Obama pôde encontrar sugere que essas cirurgias não trazem melhorias significativas em sua qualidade de vida.
Infelizmente, essas cirurgias podem ter consequências mortais. Em uma discussão sobre o maior e mais robusto estudo sobre redesignação de sexo, os centros de serviços Medicare e Medicaid apontaram que “o estudo identificou aumento da mortalidade e da hospitalização psiquiátrica em comparação com os de grupos de controle. A mortalidade foi principalmente devido a suicídios.
Esses trágicos resultados contradizem as narrativas midiáticas, bem como muitos dos estudos superficiais que não acompanham as pessoas ao longo prazo. Com efeito, o governo Obama observou que “a mortalidade dessa população de pacientes se tornou mais aparente após 10 anos”.
Desse modo, há bons motivos para ceticismo quando a mídia promove estudos que rastreiam resultados por apenas alguns anos e afirmam que a redesignação é um grande sucesso. Aliás, é interessante ver quais meios de comunicação relatam os verdadeiros resultados do estudo.
Como apontado em “When Harry Became Sally”, a disforia de gênero é uma condição séria. As pessoas que vivenciam um conflito de identidade de gênero devem ser tratadas com respeito e compaixão. Da mesma forma, eles merecem saber a verdade.
A maior e mais relevante base de dados do mundo revela que hormônios e cirurgias não trazem plenitude e felicidade. Em vista disso, precisamos encontrar respostas melhores, mais humanas e eficazes para aqueles que sofrem de disforia.
*Artigo publicado originalmente pela Heritage Foundation.