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Por que devemos deixar maus bancos falirem

A esta altura, você provavelmente já ouviu falar que as autoridades reguladoras fecharam o o Silicon Valley Bank (SVB) e, agora, também o Signature Bank.

Embora eu não vá entrar em todos os detalhes, a história básica é bem descrita neste artigo do Seeking Alpha. Em essência, o SVB recebeu um grande influxo de depósitos enquanto o Federal Reserve inundava o mercado com dólares durante a pandemia da COVID.

A partir daí, o SVB passou a comprar títulos do governo para guardar esse dinheiro. Mas então, o Federal Reserve começou a adotar políticas que elevaram as taxas de juros. O problema? Com o aumento das taxas de juros, os títulos que o SVB comprou no passado diminuíram de valor.

Os preços dos títulos e a taxa de juros têm uma relação inversa. Se as taxas de juros aumentarem, você poderá obter um retorno maior sobre os ativos financeiros adquiridos hoje. Quando isso acontece, os títulos emitidos a uma taxa anteriormente mais baixa devem ser vendidos com desconto para competir.

Assim, quando as taxas subiram, os ativos do SVB (compostos em grande parte por antigos títulos do governo com taxas mais baixas) despencaram em valor.

Deixe os perdedores perderem

A questão-chave agora é: o que faremos a respeito disso?

Tenho uma proposta modesta – deixe-os fracassar.

Permitir que os bancos quebrem pode parecer algo extremo, mas é realmente a solução mais razoável. É verdade que haverá alguns custos se os bancos falirem. Sempre que um negócio vai à falência, outros investidores vinculados financeiramente à empresa perdem.

Mas aqui está o problema: as pessoas que investem em negócios ruins devem perder. O fracasso do SVB reflete o fato de que o banco era um destruidor de riquezas. O SVB pegou o dinheiro dos depositantes e o converteu em títulos que agora estão severamente desvalorizados.

Os bancos que destroem riquezas não devem continuar a fazê-lo indefinidamente. E quando os depositantes fazem uma “corrida” a bancos ruins para retirar seu dinheiro, eles estão prestando um serviço público.

Neste ponto, um bailout bancário não apenas significaria que os contribuintes pagaraim o pato pelos erros dos banqueiros, mas também significaria estragar ainda mais os incentivos no setor bancário.

Auxílio Perigoso

Para entender o problema do incentivo, pense em um exemplo. Imagine um mundo onde, não importa as circunstâncias, o governo pagará para consertar os carros após cada acidente. O que você acha que aconteceria com o número de acidentes de carro por ano? Dispararia.

Se você nunca precisa ter medo de pagar um preço por bater seu carro, por que dirigir com cuidado? Ainda há algum incentivo para evitar acidentes graves devido a lesões, mas o ponto central é que esse sistema reduz o custo do comportamento de risco e, portanto, reduz o incentivo de um indivíduo para ser cuidadoso. Os economistas chamam isso de problema do risco moral.

E este é o principal problema com ailouts bancários. Se o governo estabelecer um precedente de que todas as falências bancárias serão amenizadas com o uso do dinheiro do contribuinte, os bancos se envolverão em comportamentos de risco que, de outra forma, não adotariam. Por que ser cauteloso com o dinheiro dos depositantes se você consegue um bailout independentemente do que aconteça?

Não é possível ter um livre mercado saudável quando se privatiza os lucros e socializa as perdas. A carteira do contribuinte, se tratada como bem comum, estará sujeita à tragédia dos comuns.

E não quero dizer apenas que sou contra um bailout formal para salvar os investidores. Oponho-me a que os dólares dos contribuintes sejam realocados para salvar os resultados de qualquer pessoa envolvida. Alguns podem se preocupar com pequenos depositantes, mas o FDIC já garante até US$ 250.000 (independentemente do que eu ou qualquer outra pessoa pense sobre essa política), o que significa que todo depositante que tem menos do que isso em sua conta já está recebendo seu dinheiro de volta.

E para os maiores depositantes? Os negócios têm riscos. Não podemos pagar às pessoas por ignorarem esse fato. Se você deseja abrigar mais de um quarto de milhão de dólares em qualquer instituição, deve ter muito cuidado ao escolher.

Se algum indivíduo quiser comprar o SVB ou esses outros bancos falidos e tentar ressuscitá-los, eu os convido a tentar. Talvez haja uma oportunidade de lucro aí. Mas se a escolha é entre um bailout e deixá-los falir, a resposta é clara para mim.

Se eles podem ter os lucros, eles também devem ter as perdas.

Artigo publicado originalmente em fee.org.