No dia 5 de fevereiro, um vereador, eleito para representar o povo de Curitiba, liderou uma invasão à Igreja Nossa Senhora do Rosário durante a missa. Ele juntou dezenas de pessoas para profanarem a cerimônia religiosa. O vereador calou o padre e fez a sua própria homilia progressista. Em meio às palavras de ordem, acusou as pessoas de fé católica de serem racistas e fascistas, cúmplices dos assassinatos de Moïse Mugenyi, imigrante congolês, no Rio de Janeiro e de Durval Teófilo Filho, pai de família.
Chama atenção o pretexto para escarnecer cristãos, acusando a religião de cúmplice daqueles homicídios. Culpa os cristãos de Curitiba, mas estes poderiam ser de qualquer cidade. Atribuiu aos fiéis presentes uma relação de causalidade sem pé, nem cabeça com o crime. Incriminou os religiosos como se os assassinatos ocorressem apenas por influência da fé. Nunca por loucura ou por estrita maldade humana.
O que leva um representante, que responde ao povo nas ruas da cidade, a agir com tamanha falta de senso?
Detenhamo-nos na religião e na loucura. Não na religião transcendente, como a cristã, mas como Carl Jung a descreve. Para ele, a religiosidade é uma função natural, inerente à psique. A religião seria um instinto.
A história parece dar certa razão a Jung. Com o furor revolucionário francês no fim do século XVIII, se consolidou o anticlericalismo quando a Primeira República Francesa foi declarada. Igrejas e cemitérios foram atacados e destruídos.
Como se o instinto humano ordenasse, surge então um sistema de crenças baseado em ideias racionalistas com a intenção de substituir o cristianismo: o Culto da Razão.
A religiosidade da psique humana não prescindiu de templos. Os revolucionários tomaram a Catedral de Notre Dame, em Paris, para fazer a maior de todas as cerimônias do Culto da Razão: o altar cristão foi desmontado e uma altar à Liberdade foi instalado. Os ritos do culto levaram várias horas, concluindo com a aparição da Deusa da Razão.
Analisando a atitude do vereador de Curitiba, podemos pensar que anticlericalismo furioso não desapareceu pelas guilhotinas de Robespierre. Ressuscitou e parece ter ânimo para prosseguir com mais performances ideológicas no Brasil.
As ideologias extremistas, ao que tudo indica, querem ocupar o lugar das religiões, com um sinal invertido. Escarnecem a promessa de um paraíso eterno e invertem a lógica: adulam profissão de fé na razão materialista de fazer da Terra o paraíso, com o custo que precisar.
Raymond Aron diz que essas ideologias combinam os temas maiores do pensamento progressista. Diz-se originar na ciência, ou na razão, por isso a vitória final é garantida. Declaram-se possuidoras do eterno desejo de justiça e anunciam a revanche dos infelizes. É pessimista no imediato, mas otimista no longo prazo. Espalha a fé romântica no terreno fértil dos tumultos.
Diz ainda Aron que a ideologia progressista é totalmente religião, mas no sentido mais impuro da palavra. Antes de tudo, o progressismo compartilha com todas as formas inferiores de vida religiosa o fato de ter sido usado, segundo a observação de Marx, como um ópio para o povo.
O ópio, como substância alucinógena, apaga a consciência humana e leva o ser a acreditar que os delírios são a realidade.
De fato, o grau de irracionalidade do progressismo moderno excede muito qualquer mal-entendido que possa atribuído à coleta deficiente de dados ou erros lógicos.
Lyle Rossiter, psiquiatra norte-americano, diz que, sob um escrutínio cuidadoso, as distorções da habilidade normal, presentes no progressismo, só podem ser compreendidas como sendo produto de psicopatologias. São tão extravagantes os padrões de pensamento, emoções, comportamentos e relacionamentos, que seus protestos e demandas incansáveis tornam-se compreensíveis somente como desordens da psique.
Essa é a consequência da religião progressista. Confunde delírios com possibilidades e age para fazer o mundo da sua forma, como um louco.
Assim, o delirante Adélio Bispo foi diagnosticado. Assim também se comportou o vereador de Curitiba, que transtornado invadiu uma cerimônia religiosa para ofender a fé cristã e pregar a sua ideologia.
É bom a sociedade ficar atenta porque, em outra oportunidade, algum progressista radical pode tomar atitudes ainda mais extremas.