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Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, relato sobre o Sete de Setembro (1822)

Conselheiro de Dom Pedro I, o padre Belchior Pinheiro de Oliveira fez parte da comitiva que acompanhou o imperador na jornada de Santos a São Paulo em 7 de setembro de 1822. É dele o relato mais detalhado do que houve naquele dia: perto do riacho do Ipiranga, na região sul de São Paulo (e ainda a alguns quilômetros do centro da cidade), Dom Pedro recebe cartas em que fica sabendo do ultimato das cortes portuguesas, que exigiam sua volta a Lisboa.

Foi ali que ele decidiu proclamar o Brasil um país independente. As testemunhas eram membros da sua comitiva (em sua maioria, militares) e alguns poucos moradores da região, que na época abrigava propriedades rurais.

Os acontecimentos daquele deram início a um novo país.

O relato abaixo é uma versão resumida da descrição feita pelo padre Belchior. A ortografia foi atualizada.

Padre Belchior Pinheiro de Oliveira (1778-1856)

”Foi nessa altura, no lugar denominado Moinhos, que dois correios da Corte se aproximaram açodadamente. Entregaram importantes papéis ao príncipe. O príncipe mandou ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro. Eram elas: uma instrução das Cortes, uma carta de Dom João [chegadas de Portugal], outra da princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain.

(…) 

Dom Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixou-os na relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, virou-se para mim e disse: ‘E agora, padre Belchior?’ E eu respondi prontamente: ‘Se Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e, talvez, deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.’

(…)

D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente, estacou já no meio da estrada, dizendo-me: – ‘Padre Belchior, eles o querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal.’

(…)

Respondemos imediatamente, com entusiasmo: – ‘Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva D. Pedro!’ O príncipe virou-se para seu ajudante de ordens e falou: – ‘Diga à minha guarda, que eu acabo de fazer a independência do Brasil. Estamos separados de Portugal. ‘O tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam quase todos os dragões da guarda.”