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Dom Pedro I, Proclamação aos Paulistanos (1822)

A notícia dos acontecimentos à margem do Ipiranga já haviam se espalhado por São Paulo, e os moradores da pequena cidade (eram menos de 10 mil habitantes) esperavam por uma declaração do imperador. Ela veio na forma de uma declaração pública, por escrito, afixada nos principais pontos da cidade em 8 de setembro. Nela, Dom Pedro I adota um tom otimista ao mesmo tempo em que adverte para a possibilidade de uma guerra contra Portugal.

Esta é a íntegra da carta, que teve a ortografia atualizada.

Dom Pedro (1788-1834)

“Honrados paulistanos,

O amor que eu consagro ao Brasil em geral, e a vossa Província em particular, por ser aquela que perante mim e o mundo inteiro fez conhecer primeiro que todos o sistema maquiavélico, desorganizador e faccioso das cortes de Lisboa, me obrigou a ir entre vós fazer consolidar a fraternal união e tranquilidade, que vacilava, e era ameaçada por desorganizadores, que em breve conhecereis, fechada que seja a devassa, a que mandei proceder.

Quando eu mais que contente estava junto de vós, chegam notícias que de Lisboa os traidores da nação, os infames deputados pretendem fazer atacar ao Brasil, e tirar-lhe do seu seio seu Defensor; cumpre-me como tal tomar todas as medidas que minha imaginação me sugerir; e para que estas sejam tomadas com aquela madureza, que em tais crises se requer, sou obrigado, para servir ao meu ídolo, o Brasil, a separar-me de vós, (o que muito sinto), indo para o Rio ouvir meus conselheiros, e providenciar sobre negócios de tão alta monta.

Eu vos asseguro que cousa nenhuma me poderá ser mais sensível, do que o golpe que minha alma sofre, separando-me de meus amigos Paulistanos, a quem o Brasil, e eu devemos os bens, que gozamos, e esperamos gozar de uma Constituição liberal e judiciosa. Agora, paulistanos, só vos resta conservardes união entre vós, não só por ser esse o dever de todos os bons brasileiros, mas também por que a nossa pátria está ameaçada de sofrer uma guerra, que não só nos há de ser feita pela tropas que de Portugal forem mandadas, mas igualmente pelos seus servis partidistas e vis emissários que entre nós existem, atraiçoando-nos.

Quando as autoridades vos não administrarem aquela justiça imparcial, que delas deve ser inseparável, representai-me que eu providenciarei. A divisa do Brasil deve ser “Independência ou Morte”. Sabei que, quando trato da causa pública, não tenho amigos e validos em ocasião alguma.

Existi tranquilos: acautelai-vos dos facciosos sectários das cortes de Lisboa; e contai em toda a ocasião com o vosso Defensor Perpétuo.

Paço, em 8 de setembro de 1822.

Príncipe Regente.”