A invasão da Ucrânia pela Rússia é uma medida injustificável contra um país independente que não violou a soberania russa em momento algum. Em uma semana de ataques, as consequências já são trágicas. Até agora, cerca de 300 civis morreram e centenas de milhares de pessoas abandonaram suas casas para se refugiar em outro país.
Esta agressão brutal contra um país democrático, sem paralelo nas últimas décadas, exige um posicionamento claro do Brasil, a quarta maior democracia do planeta.
Por um lado, o país apoiou uma resolução, no Conselho de Segurança da ONU, que condena a agressão. Por outro lado, o presidente Jair Bolsonaro tem optado por uma postura de neutralidade. Nesta segunda-feira, ele afirmou: “No meu entender, nós não vamos tomar partido. Nós vamos continuar pela neutralidade”, disse ele.
O governo brasileiro tem pouco a ganhar com essa postura.
O PT está com Putin. O PCdoB está com Putin. O PCO está com Putin. Nicolás Maduro e a ditadura cubana também. A China parece ter optado pela neutralidade. Ao mesmo tempo, um rápido consenso se formou entre as democracias da Europa, da América do Norte, além do Japão e da Austrália: é preciso adotar medidas duras contra a Rússia. Tido como o líder mais conservador da Europa, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, também apoiou as sanções contra a Rússia — apesar de ter tido uma postura de proximidade com o regime de Putin no passado recente. “Nós estamos ao lado da Ucrânia — estamos ao lado da integridade territorial e a soberania da Ucrânia”, disse ele. Até a Suíça, historicamente neutra, se posicionou a favor de medidas contra Putin e seus aliados.
O Brasil não precisa mandar recursos, muito menos homens, à Ucrânia. Mas um posicionamento claro é necessário. Em primeiro lugar, porque é a postura justa a se fazer diante de uma invasão injustificada contra um país democrático que não violou a soberania da Rússia. Em segundo lugar, porque os possíveis benefícios econômicos da neutralidade são ilusórios.
A Constituição brasileira afirma que a diplomacia do país se rege pelos princípios da “independência nacional”, da “autodeterminação dos povos” e da “defesa da paz”. Com base neles, a única solução é condenar a invasão da Ucrânia — que, lembre-se, não se restringe às regiões separatistas, mas ao país todo, inclusive à capital Kiev, com o objetivo de remover um governo eleito democraticamente.
Não é possível ignorar as graves violações cometidas pelo regime de Vladimir Putin, um saudosista dos tempos de União Soviética e um líder autoritário que costuma envenenar seus adversários e já ordenou a prisão de milhares de cidadãos russos que se manifestaram contra a invasão da Ucrânia.
É verdade que a Rússia é um dos principais vendedores de fertilizantes para o Brasil. E que, sem fertilizantes, o setor mais importante da economia brasileira pode ser afetado. Mas também é verdade que, mesmo de um ponto de vista puramente econômico, ficar contra o consenso de todas as democracias importantes do mundo pode ser ainda pior. Além disso, diante das fortes sanções econômicas e do seu isolamento diplomático, é provável que a Rússia não consiga honrar suas parcerias comerciais. Mesmo se tiver condições de continuar negociando com o Brasil, o regime de Putin estará ainda mais dependente de parceiros externos, e não terá cacife para se recusar a vender fertilizantes para o Brasil. Por fim, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o Brasil possui outras opções para a compra de fertilizantes. “Temos outras alternativas para poder substituir se nós tivermos algum problema em algum desses países”, disse ela, na última semana.
O Brasil é um ator importante no cenário global. É hora de se alinhar com a defesa de uma causa justa e mandar um sinal ao resto do mundo: o povo brasileiro está ao lado da paz e da democracia.