O presidente esquerdista é impopular e assolado por escândalos familiares. De acordo com um analista político: “Neste momento, [ele] está em modo de controle de danos, tentando isolar o problema envolvendo seu filho. . . . Muitas pessoas estão dizendo: ‘É impossível que [o presidente] não soubesse o que seu filho estava fazendo’”. O presidente prometeu não interferir na investigação. Ele deseja “sorte e força” ao filho e espera que “esses acontecimentos forjem seu caráter”.
É claro que estamos a falar da Colômbia, onde o filho do presidente Gustavo Petro, Nicolás, foi preso em 29 de julho sob acusação de lavagem de dinheiro. Mas filhos trambiqueiros dos presidentes não são os únicos paralelos entre os EUA e a América Latina hoje. Em julho deste ano, mais de 40 conservadores reuniram-se para o primeiro Diálogo de Carvalho em Miami, para discutir a ameaça regional do crime organizado transnacional, além do socialismo autoritário e da instabilidade política.
Organizado pela Heritage Foundation, pela Texas Public Policy Foundation e outros parceiros, o Diálogo pretende reunir-se duas vezes por ano em Miami e Austin, Texas, para discutir questões regionais a partir de uma perspectiva conservadora. A próxima reunião será em setembro e terá como foco a conturbada relação EUA-México.
O desafio regional é significativo. A rede socialista fundada por Fidel Castro e pelo brasileiro Lula da Silva em 1990 como Foro de São Paulo espalhou-se pelas Américas. Da Bolívia à Venezuela, os regimes socialistas combinam corrupção com autoritarismo. E enquanto o governo Biden olha para o outro lado, potências estrangeiras malignas se aproveitam.
A China, o Irã e a Rússia estão interferindo em eleições, infiltrando-se nos governos e utilizando táticas violentas para dominar setores essenciais do comércio Infelizmente, a corrupção persistente da América Latina facilita isso. Sob o disfarce de remessas comerciais, o Irã está ajudando o regime de Nicolás Maduro na fabricação de drones na Venezuela para equipar o primeiro programa de drones bélicos na América.Por meio de rotas de transporte aéreo e marítimo estabelecidas do Irã para a Venezuela, os iranianos estão capacitando uma perigosa rede transregional que facilita a transferência de drogas ilícitas, dinheiro e armas em benefício do Hezbollah e de grupos armados latino-americanos, como os dissidentes das FARC na Colômbia. A Rússia usa a desinformação nas redes sociais para manipular as eleições. Já a China joga no longo prazo pelo controlo estratégico dos portos, do espaço, das telecomunicações, das infra-estrutura crítica e das finanças.
Ainda mais familiares aos americanos são as vastas redes de crime organizado da América Latina. Estas operações transportam armas, drogas e migrantes através das fronteiras com impunidade, utilizando os lucros para minar ou cooptar governos frágeis. Os líderes da Colômbia parecem ter esquecido os horrores da era do traficante Pablo Escobar, do Cartel de Medellín, e o governo Petro está negociando a paz com os narcoterroristas em condições desfavoráveis, cedendo território a grupos armados. O regime de Maduro na Venezuela transformou a migração em massa numa arma, financiando e organizando ONG politizadas de “fronteiras abertas” na América Central para minar a soberania dos estados democráticos, incluindo os EUA.
E, claro, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cedeu o controlo de áreas do seu próprio país a cartéis que “são conhecidos por controlar os corredores de tráfico no México que ligam a Califórnia e o Arizona”, segundo a DEA (departamento anti-drogas do governo americano). O fentanil, maioritariamente contrabandeado através da fronteira aberta de Biden, matou cerca de 60.000 americanos só no ano passado. Mas em vez de assumir a responsabilidade, López Obrador prefere gastar tempo se intrometendo nas eleições dos EUA e dizendo às minorias para não votarem nos republicanos.
Por fim, seguindo o exemplo dos seus homólogos progressistas nos Estados Unidos, os regimes de toda a América Latina recorrem à “guerra legal”, incluindo a supressão dos meios de comunicação social, para silenciar os oponentes. Nos EUA, as plataformas de redes sociais bloquearam arbitrariamente, ou em cooperação com agências federais, pontos de vista opostos sobre a Covid, a ideologia de gênero e outros tópicos de debate nacional. Aparentemente, a pedido de funcionários do governo Biden, o Facebook suprimiu o conteúdo do veículo conservador Daily Wire e favoreceu meios de comunicação mais alinhados. O YouTube usa rotineiramente diretrizes de conteúdo excessivamente amplas para desmonetizar programas e vídeos por “discurso de ódio”. No Brasil, o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal reprimiram as vozes da oposição por meio da censura e de processos penais, tornando figuras proeminentes incapazes de expressar as suas opiniões em qualquer meio de comunicação. Segundo os Repórteres Sem Fronteiras, a Venezuela “vive um ambiente restritivo prolongado em termos de informação, com políticas que ameaçam o pleno exercício do jornalismo independente”. A política eleitoral venezuelana é uma farsa. E no México, o presidente López Obrador “ainda não levou a cabo as reformas e medidas necessárias para travar a espiral de violência contra a imprensa”.
Enquanto isso, a ordem do governo Biden de injetar a ideologia de gênero em todos os programas diplomáticos e na ajuda externa dos americanos indica o seu interesse em promover o radicalismo progressista, à custa de outras prioridades nacionais dos EUA, como o exercício de influência na América Latina. Um relatório de 134 páginas elaborado por diversas agências mostra a seriedade com que a administração leva esta nova missão ideológica. A diplomacia ativista de Biden também divide as sociedades latino-americanas em grupos identitários. Esta abordagem obsessivamente “intersecional” é altamente divisionista num continente com grande diversidade étnica e política, e mina a cooperação com os aliados dos EUA em questões que vão desde a defesa e contraterrorismo até aos refugiados. Na verdade, em países que a esquerda progressista ainda não conseguiu conquistar, como o Peru, tem crescido a resistência da população em resposta à diplomacia americana, que procura mudar a cultura tradicional e os valores familiares.
Mas ainda há esperança. À medida que as ameaças comuns aos países das Américas se tornam mais prementes, a nossa capacidade de colaborar para encontrar uma solução também aumenta. O Diálogo de Carvalho mostrou que os povos livres e soberanos podem e devem resistir à agenda repressiva e antidemocrática do socialismo. Trabalhando em conjunto, embora não necessariamente por meio dos seus atuais governos, os povos dos Estados Unidos e da América Latina podem construir sociedades democráticas e duradouras que cooperem para a prosperidade econômica e a segurança mútuas.
Artigo publicado originalmente pela National Review e pela Heritage Foundation.