
Gabriel de Arruda Castro
Luiz Guilherme Hertel Santiago
Maio de 2025
Quando o Instituto Monte Castelo lançou a primeira edição do relatório Mortalidade Policial, em 2021, a expectativa era de que os números alarmantes de policiais assassinados no Brasil começassem uma trajetória consistente de queda. Mas, após quatro anos de monitoramento, novos dados revelam uma realidade preocupante: a redução na mortalidade policial estagnou.
Em 2024, 186 policiais foram assassinados no Brasil – uma redução de apenas 1% em relação aos 188 mortos em 2023. Apesar de representar o menor número desde 2019, quando 193 policiais perderam suas vidas, a estagnação após anos de queda é um sinal de alerta.
No ano passado, criminosos tiraram a vida de 145 policiais militares, 20 policiais penais, 15 policiais civis e peritos, cinco guardas municipais e um policial rodoviário federal.
Em comparação com 2023, houve uma pequena redução nas mortes de policiais militares (de 148 para 145) e policiais civis (de 24 para 15), mas um aumento preocupante nas mortes de policiais penais (de 9 para 20) – um crescimento de 122%.
Se há uma boa notícia, é o fato de que o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (SINESP) consolidou-se como fonte confiável de dados sobre mortalidade policial. Desde 2023, quando entrou em operação, o sistema tem fornecido estatísticas mais precisas e tempestivas. Isso permitiu ao Instituto Monte Castelo abrir mão do método anterior, que dependia da boa vontade de cada um dos estados em responder corretamente nossos pedidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Por exemplo: no levantamento que fizemos junto aos estados sobre os policiais assassinados em 2024, o Rio de Janeiro informou a morte de 11 policiais militares e um policial civil em 2024. Na realidade, o SINESP mostra que foram 39 policiais militares e dois policiais civis. Justamente por isso é que, a partir desta edição, decidimos usar os dados do SINESP como referência. Também revisamos os dados dos anos anteriores (a partir de 2015) para permitir uma análise mais confiável do problema na última década. Com um critério unificado (policiais mortos da ativa assassinados, estando ou não em serviço), a linha do tempo mostra os números praticamente estáveis desde 2019.
Evolução da Mortalidade Policial no Brasil

O gráfico acima mostra uma tendência preocupante: após uma queda significativa entre 2018 (348 mortes) e 2019 (193 mortes), o número de policiais assassinados praticamente estagnou em torno de 190-200 mortes anuais. É como se o país tivesse atingido um patamar mínimo e não conseguisse avançar.
Números por unidade da federação
Os dados de 2024 mostram que, mais uma vez, o Rio de Janeiro lidera o ranking absoluto das unidades da federação. Foram 53 policiais assassinados no ano passado – um aumento de 47% em relação aos 36 mortos em 2023. O estado concentra 28% de todas as mortes de policiais do país.
Em seguida, na lista dos estados com mais mortes, aparecem:
- São Paulo: 29 mortes (aumento de 16%)
- Pará: 25 mortes (aumento de 56%)
- Ceará: 17 mortes (aumento de 89%)
- Bahia: 12 mortes (aumento de 33%)
Quando consideramos o tamanho do efetivo policial, estados menores aparecem com taxas proporcionalmente altas. O Pará continua sendo o estado mais perigoso para se trabalhar como policial, com uma taxa estimada de mais de 1 morte para cada 1.000 policiais da ativa.
Apenas seis unidades da federação não registraram mortes de policiais em 2024:
- Acre
- Amapá
- Mato Grosso do Sul
- Rondônia
- Roraima
- Santa Catarina
Agentes de segurança assassinados em 2024, por unidade da federação
UF | Polícia Militar | Polícia Civil + Perícia | Polícia Penal | Guarda Municipal | PRF | Total |
---|---|---|---|---|---|---|
RJ | 39 | 2 | 12 | 0 | 0 | 53 |
SP | 24 | 5 | 0 | 0 | 0 | 29 |
PA | 16 | 1 | 5 | 3 | 0 | 25 |
CE | 16 | 0 | 0 | 1 | 0 | 17 |
BA | 9 | 2 | 1 | 0 | 0 | 12 |
PE | 6 | 1 | 0 | 0 | 0 | 7 |
PR | 3 | 3 | 0 | 0 | 0 | 6 |
RS | 6 | 0 | 0 | 0 | 0 | 6 |
TO | 4 | 0 | 0 | 0 | 1 | 5 |
MG | 4 | 0 | 0 | 0 | 0 | 4 |
PI | 3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3 |
AM | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
DF | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
GO | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
MA | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
MT | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
PB | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 |
RN | 1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 2 |
AL | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 |
ES | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
RR | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 1 |
SC | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 |
SE | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 |
AC | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
AP | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
MS | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
RO | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Total | 145 | 15 | 20 | 5 | 1 | 186 |
Taxa de mortalidade por unidade da federação
Levando em conta o efetivo policiais militares em cada unidade da federação, o Tocantins é o estado com o maior índice de vitimização de agentes de segurança. Em 2024, a taxa foi de 1,13 para 1.000 policiais tocantinenses. Em seguida, aparecem Pará, Rio de Janeiro, Ceará e Piauí.

UF | Índice de policiais militares assassinados (por 1.000) |
---|---|
TO | 1,13 |
PA | 0,90 |
RJ | 0,90 |
CE | 0,71 |
PI | 0,45 |
PE | 0,36 |
RS | 0,33 |
BA | 0,30 |
SP | 0,30 |
MT | 0,30 |
AM | 0,24 |
PB | 0,23 |
DF | 0,19 |
GO | 0,18 |
MA | 0,18 |
PR | 0,18 |
ES | 0,13 |
RN | 0,12 |
MG | 0,11 |
SC | 0,10 |
AC | 0,00 |
AL | 0,00 |
AP | 0,00 |
MS | 0,00 |
RO | 0,00 |
RR | 0,00 |
SE | 0,00 |
Sobre o Instituto Monte Castelo
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