A hiperinflação atrasou o desenvolvimento, empobreceu as famílias e motivou planos econômicos irresponsáveis na década de 1980 e no início da década de 1990. Foi o Plano Real, em 1994, que pôs fim a este período de incertezas e tornou possível a estabilidade da economia. No lançamento da nova moeda, o presidente Itamar Franco fez um discurso à altura da importância do momento.
“Senhor presidente do Congresso Nacional, senhor presidente da Câmara dos Deputados, senhores líderes do governo no Senado e na Câmara, senhores ministros de Estado, senhores jornalistas, senhoras e senhores, moços e moças,
Os homens são construídos pela vontade, e essa mesma vontade, reunida pela esperança, levanta as nações e as projeta no tempo, em sua necessária aspiração à eternidade.
A vontade, mais do que o vento e mais do que as volúveis correntes marinhas, trouxe as caravelas a esta terra para, em seguida, abrir o caminho nos sertões, empurrar a linha de Tordesilhas até a muralha ocidental da Cordilheira e edificar a mais importante das sociedades ao sul do Equador.
A esta vontade, tão poderosa, tem faltado, ao longo dos séculos e mais ainda ao longo deste século, outra e indispensável virtude, a virtude da justiça. Desprovidos do espírito de justiça, os homens podem ser individualmente prósperos, mas não fazem ricas as nações. Desprovida de justiça, de que deve ser o instrumento prático, ao dar equidade de valor ao trabalho e aos bens, a moeda perde o respeito dos homens, e longe de servir aos povos, corrompe a sociedade, desfaz os valores morais, destroça a esperança e enfraquece a vontade.
Com a chegada do real, neste 1º de julho, o Brasil tem a oportunidade de mudar de forma definitiva o curso da sua história.
A moeda é o mais concreto dos atos de confiança das nações em si mesmas. Por isso, todos os processos inflacionários da história se relacionam com as crises políticas e com as crises morais.
É a inflação que tem cobrado dos mais pobres, daqueles que não têm como se proteger, o mais pesado de todos os impostos –o imposto da inflação. Porque são os mais pobres, os trabalhadores mais humildes, a grande maioria do nosso povo, os que veem o seu salário ser corroído impiedosamente logo após o dia do pagamento. São eles que sentem mais de perto os efeitos de um mercado de trabalho que não acompanha o crescimento da nossa população nem as suas expectativas de uma vida melhor porque faltam os investimentos produtivos que a inflação canaliza para a especulação.
Ética e responsabilidade, transparência e diálogo são as qualidades que marcam os atos praticados em uma democracia. São essas as qualidades que inspiraram o Plano Real desde a sua criação. E são elas que assegurarão o seu êxito, porque fizeram com que o plano fosse conhecido e discutido amplamente pela sociedade, pelo Congresso, pelos agentes econômicos, pelo cidadão.
Mais de uma vez eu vim a público para expressar sentimentos e inquietações do homem do povo, daqueles que, na sua busca de justiça e proteção, se voltam para o presidente da República, como depositário das suas esperanças. Fui por vezes incompreendido ao fazer isso, mas esse é um dever indeclinável do governante.
Sei que, agora, eu interpreto um sentimento de confiança da maioria dos brasileiros, de esperanças poucas vezes tão próxima de se realizar. Essa confiança deve ser a principal motivação para que o governo continue inteiramente empenhado no êxito do Plano Real. Porque essa confiança é o que está mobilizando cada cidadão que deseja o sucesso do plano. E eu não tenho dúvida de que eles são maioria, uma maioria que cresce e participa, que faz a história do novo tempo que está começando.”