Como economista, ministro de Estado, deputado e senador, Roberto Campos exerceu um papel fundamental, muitas vezes de forma solitária, na defesa do liberalismo econômico. Já no fim da sua jornada, ele publicou “Reflexões do Crepúsculo”, com um conto de ensaios sobre a economia brasileira. O trecho abaixo foi extraído de um artigo sobre as “falsas soluções” que se baseiam no intervencionismo estatal.
“Muitos no governo e no Congresso pensam que podem aumentar os salários reais por ‘ukase’ legislativo ou decreto executivo. Infelizmente, o que podemos manipular são apenas os salários nominais. Se estes se descompassarem em relação à oferta e à procura, o mercado responderá com mais inflação ou mais desemprego.
Por isso defendo há anos a livre negociação salarial no setor privado. A última lei salarial, como todas as outras, é um ente de ficção. As empresas que têm produtividade, ou conseguem repassar custos, dão mais do que a lei prevê; as que enfrentam conjuntura adversa de mercado, desempregam gente ou emigram para a economia informal, onde inexiste proteção salarial e previdenciária. Por isso há muito tempo apresentei projeto sobre a livre negociação salarial.
É inútil tentar fazer com que todas as empresas calcem o mesmo sapato. Nossa política salarial tem sido um misto de paternalismo ineficaz e intervencionismo perturbador. No setor público, os salários têm de obedecer a constrangimentos orçamentários e há que conter o corporativismo das estatais, cujas reivindicações tarifárias, supostamente direcionadas para investimento, acabam às vezes sancionando mordomias.”