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Carta de Dom Pedro I a Dom João VI [Dia do Fico] (1822)

A chamada Revolução Liberal do Porto, deflagrada em 1820, ameaçava a monarquia. As cortes chamaram o rei Dom João VI de volta a seu país. Ele partiu em 1821, mas Dom Pedro I decidiu ficar no Brasil. Nesta carta, de janeiro de 1822, o futuro imperador relata a seu pai os acontecimentos do “Dia do Fico”. Embora o então príncipe pareça argumentar que sua permanência iria impedir a independência do Brasil (e que isto seria algo positivo), a verdade é que a decisão de Dom Pedro I ajudou a pavimentar o caminho para a separação entre as duas nações, que ocorreria oito meses mais tarde.

A grafia das palavras foi atualizada para a linguagem de hoje.

Dom Pedro I (1798-1834)

“Meu Pai, e Meu Senhor — Dou parte a Vossa Majestade, que no dia de hoje às dez horas da manhã recebi uma participação do Senado da Câmara pelo seu Procurador, que as Câmaras nova, e velha se achavam reunidas, e me pediam uma Audiência: respondi, que ao meio-dia podia vir o Senado, que eu o receberia; veio o Senado, que me fez uma fala mui respeitosa, de que remeto cópia (junta com o Auto da Câmara) a Vossa Majestade, e em suma era, que logo que desamparasse o Brasil, ele se tornaria independente; e ficando eu, ele persistiria unido a Portugal. Eu respondi o seguinte: “Como é para bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao Povo, que fico.

O Presidente do Senado assim o fez, e o Povo correspondeu com imensos Vivas, cordialmente dados, a Vossa Majestade, a Mim, à União do Brasil a Portugal, e á Constituição: depois de tudo sossegado, da mesma janela, em que estive, para receber os Vivas, disse ao Povo: “Agora só tenho a recomendar-vos união, e tranquilidade” assim lindou este ato. De então por diante os habitantes tem mostrado de todas as formas o seu agradecimento, assim como eu tenho mostrado o meu, por ver, que tanto me amão.

Remeto incluso a Vossa Majestade o Auto feito pela Câmara na forma da Lei; e estimarei, que Vossa Magestade o mande apresentar às Cortes, para seu perfeito desenvolvimento, e inteligência.

Deus guarde a preciosa vida, e saúde de Vossa Majestade, como todos os Portugueses o hão mister, e igualmente — Este seu Súdito fiel, e Filho obedientíssimo, que lhe beija a Sua Real Mão.

PEDRO.”