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Dom Pedro II, Pronunciamento à Assembleia Geral (1870)

Em 1870, ao fim da sangrenta Guerra do Paraguai, Dom Pedro II se pronunciou à Assembleia Geral do Império. O conflito durou mais de cinco anos e ceifou a vida de 200.000 brasileiros (em um país que tinha apenas 10 milhões de habitantes). Em seu discurso, como era comum, o imperador imprime um tom de otimismo sobre o futuro do Brasil.

Dom Pedro II (1825-1891)

“Augustos e digníssimos senhores representantes da nação brasileira.

Possuído do mais vivo júbilo por achar-me rodeado da representação nacional, rendo graças ao Todo-Poderoso e congratulo-me convosco pela feliz e gloriosa terminação da guerra que sustentamos durante cinco anos, sempre com honra para nossas armas, contra o ex-presidente da República do Paraguai.

Realizou-se a fundada esperança que manifestei na abertura da passada sessão legislativa, de ver os nossos valentes soldados conduzidos à vitória final sob o comando de meu muito amado e prezado genro, o marechal de Exército conde d’Eu.

A confiança que depositei na firmeza e patriotismo dos brasileiros foi amplamente justificada; e a História atestará em todos os tempos que a geração atual mostrou-se constante e inabalável no pensamento unânime de desagravar a honra do Brasil.

O regozijo de toda a população do Império pelos gloriosos sucessos que puseram termo a tão nobres sacrifícios, o entusiasmo com que tem demonstrado seu reconhecimento aos voluntários da pátria, à Guarda Nacional, ao Exército e Armada são homenagens devidas ao heroísmo e recompensa merecida da dedicação que provaram à causa nacional.

A valiosa e leal cooperação de nossos bravos aliados muito concorreu para os resultados obtidos na longa e porfiada luta em que nos empenhamos.

Augustos e digníssimos senhores representantes da nação.

Se o Brasil lamenta a perda de muitos de seus briosos filhos, resta-lhe a memória dos feitos que praticaram, preclaros exemplos de civismo e denodo.

O governo trata de realizar com a República do Paraguai, de acordo com o tratado de aliança do 1º de maio de 1865 e protocolos anexos, os ajustes necessários que nos afiancem a permanência e as vantagens da paz.

A tranquilidade pública continua inalterável.

Mantemos com todas as potências relações da mais perfeita amizade.

O progressivo crescimento das rendas públicas, prova evidente do que valem as forças produtivas do Brasil, habilita o governo a apresentar-vos uma proposta de orçamento em que as despesas não excedem os recursos ordinários do Tesouro.

O desenvolvimento moral e material do Império depende essencialmente de difundir-se a instrução por todas as classes da sociedade, da facilidade das comunicações, do auxílio de braços livres à lavoura, principal fonte de nossa riqueza.

Confio que prestareis desvelada atenção a estes assuntos e bem assim à reforma eleitoral, ao melhoramento da administração da justiça, à organização municipal e da Guarda Nacional, à decretação de meios para levar-se o efeito o recenseamento de toda a população do Império, à lei de recrutamento e ao código penal e de processo militar.

Augustos e digníssimos senhores representantes da nação.

Se vossa dedicada e patriótica coadjuvação ao governo ministrou-lhe os recursos extraordinários que a guerra exigia, vossas luzes e amor da pátria hão de dar vigoroso impulso a todos os melhoramentos internos que nos promete a nova era de paz.

Está aberta a sessão.


D. PEDRO II, IMPERADOR CONSTITUCIONAL
E DEFENSOR PERPÉTUO DO BRASIL”